sexta-feira, 20 de julho de 2007

Clyfford Still - 1964



Life is but a dream *

Sons
Ana
o sol pela janela
a pintura expressionista
Um olhar
aquela música de começo tranqüilo
um ruído
Que pernas!
isso atrapalha minha atenção,
o ruído
O quadro ganhou um vermelho hoje!
o ângulo, isso me atrai nas pernas?
gosto de como vai acelerando
Deve ser a luz que causa intensidade
poderia permanecer parada aí
o final é inesperado
Se a luz bater toda manhã vai desbotar!
porque moveu-se?
esse ruído...

* primeiro verso da música Exquisite Corpse do grupo Bauhaus - álbum The sky's gone out
Varro tua casa
para nossos lixos
não contaminarem o ideal.
Passo tua roupa
para seguires sendo o desejado -
príncipe encantado?
Faço tua comida
para não sucumbirmos
ao inevitável.
Lambo tuas feridas
pois entraste na batalha por tua dama -
sou eu quem te clama?
Sugo tua língua
pois a saliva misturou-se à minha.
Deito em tua cama
pois necessito aliviar-te da calmaria -
nossa história ainda inspiraria?

terça-feira, 17 de julho de 2007

James Ensor - As máscaras escandalizadas

A common day in the life of Mr. and Ms.

A corrida até o topo de minha cadeia alimentar -
o nojo do pódio -
e o ódio despertado pela batalha insana.

Na manhã o café engolido a qualquer modo,
o almoço é inexistente,
adiante um jantar engasgado e o coito mal realizado.

Eu e tu - frustrados.
Segue o sono imbecil de zumbi pasmado.

Sonâmbulos - eu e tu -
estilhaços da teia rudimentar,
incógnita artimanha.

Armadilha posta,
isca saborosa,
caímos de boca em um delírio monumental.
Vertigem
meu corpo não cai nas tuas mãos,
sou pedra e rolo sobre teus sonhos.
Meus olhos jogam com teu desamparo,
mas tua fraqueza me derruba.
Me perco,
tu ganhas.
Sou prêmio barato folheado,
amanhecerei levemente esverdeado.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mark Rothko

Queria a ausência e caminhou pelas incertezas para aonde levaram as estradas. A cada parada reconheceu rostos novos e antigas, rememoradas falas. Ainda carregava um mundo. Decidiu não parar mais a fim de desencontrar-se daquilo que trazia. Tombou. Em agonia sentiu nas costas seu mundo. Foi assolado pela compreensão de que caminhava não porque desejasse a ausência, mas sim, porque ela lhe movia. E a cada parada diante de antigas vozes novas era ela que estava presente. Não entendia como, lamentava os porquês, mas a ausência impregnava seu mundo. Ainda meio tonto, já quase sem ar, finalmente descobrui-se leve, mas por hora decidiu permanecer no canto onde jaz. Agora, diante das atuais certezas está imóvel...
*escrevi este texto hoje mas tinha resolvido não publicá-lo até ler o texto Slides do blog Algo se perdeu na tradução...


Kanagawa
Hipostasiar o momento em que o topo desta montanha mostrou-me a imagem daquele mar. Impossibilidade. Impossibilidade de sentar-me neste solo e criar raízes, alimentar-me da chuva e de sol. Impossibilidade da fotossíntese, do florescer; das escamas e guelras; do vôo e das penas. Impossibilidade de fazer-te experimentar o cume desta montanha e a visão de todo este mar. Sinto-me tão pequena, minúscula, entre a paisagem e a impossibilidade.
Somente manifesto
ligações
gicas;
quisera
osmoticamente um ultrapassar.

domingo, 8 de julho de 2007

Thomas Jones
Poderosa ilusão de paz ronda o ambiente,
ao longe pequenos gritos
misturam-se aos gritos dos pequenos.

Suspenso no ar um nada,
uma friagem premonitória,
augúrios, um porvir de medos.

Arrastam-se pelos cantos
silhuetas de olhar trespassado.
os rostos sérios fazendo com que corras,
teu semelhante é a verdadeira imagem do demônio.

A paisagem é cataclísmica,
casas fantasmas sem cor
deixam passar pelos buracos das paredes
qualquer resto de sol,
qualquer resto de lua,
qualquer resto de vida que não desejasse ser visto.

Minha terra branca de crianças anjo
tens agora a cor das armas,
do sangue coagulado.

Avança estranha,
indiferente ao azul daquele céu,
a poeira que se levanta deste solo triste.
Subtraí o tudo que tinha que,
dividi o disseram para,
noves fora aquilo que esperavam de mim.
Multipliquei o tanto que me devia,
somei a outro tanto sonhado,
calculei mdc, mmc, primo, nulo, raiz, quadrado.
Resultou-me a dízima,
sempre periódica,
da vida até aqui levada.

terça-feira, 3 de julho de 2007


Paul Signac
Casas pequenas enfileiradas,
marinheiros prontos para o embarque.
Os barcos jogados pelo movimento das águas,
pássaros marinhos e seus gritos -
estranhos cantos.
O cheiro do mar e teu gosto -
lágrima abandonada no cais.
Pura paisagem de fim de tarde...
Não sei o que você queria de mim,
mas me disse adeus de uma forma tão bonita
que passei a acreditar:
você desejava transformar-se em poesia.