sexta-feira, 31 de agosto de 2007


Oskar Kokoschka - The Dreaming Youths - Sleeping Girl





E então fui, e a resposta ao mais importante, ao aprendido, apreendido, guardado, ruminado, revisado e, muitas vezes, ainda assim mal usado, escoava. Alimentei a volta da questão interrogante de meu reflexionar raso, mas ela não frutificava. O grau superlativo e relativo ao longo dos anos, tão poucos... Tantos anos de aprendizado para saber-se jamais sábio-sabichão; reconhecer-se como aquele que vai fenecer e tem diante de si a tarefa, a missão, o destino e a decisão de apontar com perícia e precisão a adverbiada relação. O tirado como lição ao longo do tempo vivido. Mas a resposta volta sobre si mesma - feedback - o vital, o procurado, é o ato: perguntar. Perguntar-se, ter-se sempre em questão, está aí o valoroso, a valiosa aprendizagem necessária, o sempre visado na tarefa eternamente inconclusa de ser-me.
Este texto foi feito a partir da questão proposta pela Mélica, "A coisa mais importante que aprendi ao longo dos anos?". Mélica, espero que o feedback faça sentido...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007


Amedeo Modigliani - retrato de Lunia Czechovska


Ana tinha uma rede no cabelo - algo muito fora de época - e andava assim mesmo pelas ruas do bairro; a blusa amarela quadriculada, a saia cinza, um sapato escuro e duro. Ana era figura sem tempo caminhando da padaria para a loja de verduras. Um cumprimentar discreto em tom muito baixo. Era magra. Não era velha. Era nova, bem nova, na casa dos 25 anos, mas usava rede no cabelo - algo que trazia de outras vivências. Era só, não se sabe se solitária. Reservada, isso sim, com certeza. Quase nunca saía da vizinhança - somente quando necessário. Nunca se via usando muitas cores. Era simples com sua rede no cabelo - algo sem razão de ser. Era bela. Uma beleza comum, não vulgar; tranqüila. Era a mulher transitando em seu bairro, da padaria para a loja de verduras. Era alguém, disso não havia dúvidas. Chamava-se Ana, sobre isso também não existia equívocos. Usava aquela rede no cabelo - algo muito estranho à compreensão. Mas quem era a figura feminina que caminhava pelas ruas do bairro em uma blusa amarela quadriculada, saia cinza e sapato escuro? Isso ninguém imaginava. Nenhum vizinho conhecia a sua história. De onde era? Quando foi mesmo que mudou-se para este bairro? Quem são seus pais? Amigos, há? Era solitária então? Ao menos só ela era! Mas quem era Ana, a mulher simples, magra, tranqüila, bonita e jovem; a criatura sem época que usava uma rede no cabelo - algo incomum -, na casa dos 25 anos, que comprava pão na Padaria e Panificadora Vitória e verduras na Venda do Seu João?
Sugerir um abandono,
ganhar asas e avistar um novo mundo.
Caminhar e caminhar para não saber aonde ir,
prosseguir infinito até o alcançar dos olhos.
Fazer do lugar-comum nova realidade e
experimentar a rotina como o não existir antes.
A vida em inesperado deslumbrar-se
é o som de palavras como possibilidade.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007


Artur Bárrio - Composição com figura


Um pequeno filhote de gato,
branco e molhado,
estendido pelo asfalto negro -
pensei me ver.
E eu nem gosto de gatos...
Sempre desejei te beijar,
mas tua boca é feita de neblina
e quando nasce meu sol
ela simplesmente desaparece.
Meus sonhos andam povoados de cinza,
são cúmulos-nimbos sobre minha cabeça
prontos a desabar uma tempestade de verão,
destas que levam carros
e carregam casas e coisas,
deixando as pessoas tontas ao sabor do tempo.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007



René Magritte
Catapultar meu existir
em teus caminhos,
abdicar seguir meus sinais
desviando o existir por rotas fáceis.
Desistir de mim e culpar a ti
por me albergar,
crueldade amoroso-escapista.
Ser sádico e ser masoquista
ao fingir fugir de minha sina -
ser menos de mim.
Meu grito é seco,
é oco, é sem-sentido e vago.
Reflexo de um sem porquê,
é não-voz -
mudo desabafo.
Figura triste de um desconhecido,
forma confusa da identidade
de minha persona.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007


Antonio Sant'Elia - Studi per centrale (1914)
Ausente de um tempo sem futuro,
perdida em um presente de desacordos,
transito, totalmente tonta,
pelo centro nervoso de uma cidade
onde todos vestem carrancas,
figurino diário de conformismos.
Desvio meus olhos de seus rostos,
não quero petrificar meu destino.
Passo, incólume, por seus esbarrões,
Respiro...
E seus mecanismos,
engrenagens tristonhas,
despertam poesia
(vida tola, modernista-de-fim-de-século,
és o único sonho de muitos de nós).
O tempo do teu sono
deixou-me quase triste,
meio só.
Tracei caminhos pela sala,
descobri de lá para cá
novas rotas na planta de tua casa.
Olhei para um céu de onde pendiam
uma estranha lua e estrelas de 60 watts.
Tentei imaginar a vida selvagem
em cada buraco de parede,
nas frestas escuras dos tacos.
Sentei, levantei,
novamente me joguei no sofá.
Pernas para o alto,
cruzadas, almofadas.
Um demônio vermelho e digital
piscava na minha frente.
Rezei para o meu anjo da guarda sonado,
meditei mas a concentração sumiu.
Deixei meu último olhar estranho
sobre teu corpo largado
na extensão da cama.
Passei pela porta dos fundos,
como convém nestas horas,
e estou aqui dormindo
um sonho de poesia.

Oi pessoal,



o pensador lá do blog Algo se perdeu na tradução... - um dos blogs que eu mais gosto, mais visito e onde vivo deixando minha opinião - enlouqueceu de vez, e resolveu me premiar com o "The Power of Schmooze Award", que vem a ser um prêmio criado pelo Mike do blog Ordinary Folk . A idéia é dar o prêmio aos blogueiros que participam da blogosfera através de seus comentários, trocas de opiniões, enfim, a aqueles que, de alguma forma, tentam estabeler uma rede entre blogs e blogueiros, criando, principalmente, novas amizades sem se preocupar se o blog visitado está entre os mais populares ou não. E dentro desta idéia, se você foi premiado, deve colocar no seu blog um link daquele que te indicou, do Mike, que criou o prêmio, e fazer suas 5 indicações ao Power of Schmooze. Então, meus schmoozers indicados são:


Pensamentos

André Neves - Melhoramento constante


Cracatoa simplesmente sumiu


Meu veneno


Blog da Mélica


Um beijo a todos.