
quinta-feira, 31 de maio de 2007
terça-feira, 29 de maio de 2007
Mantém-se de pé diante do quadro de paisagem bucólica segurando a lâmina.
Não compreende o que está acontecendo com a pintura de tua vida,
Que cores têm os rostos conhecidos?
Os contornos dissolvidos como aquarelas tingem os pensamentos.
A um observador tua figura de pé pareceria obra inacabada:
As mãos trêmulas, as lágrimas misturadas ao sangue, o olhar contemplativo...
Surreal a realidade do pintor.
Não compreende o que está acontecendo com a pintura de tua vida,
Que cores têm os rostos conhecidos?
Os contornos dissolvidos como aquarelas tingem os pensamentos.
A um observador tua figura de pé pareceria obra inacabada:
As mãos trêmulas, as lágrimas misturadas ao sangue, o olhar contemplativo...
Surreal a realidade do pintor.
domingo, 27 de maio de 2007
Quando Ana passava pelas ruas não pensava em coisa alguma, só caminhava. Um passo atrás do outro. Interessante era o vagar da bela. Aérea em seu flanar, pisava como se voa. Viajava em seus olhares sem perceber o não-estar. E lá sumia ela, um pequeno ponto a mais na calçada cheia, um momento a menos em sua companhia. Um deixar-se levar pelos andares sem nenhum mas...Ana, para que lado vais?
sexta-feira, 25 de maio de 2007
Dormir demais e continuar o pesadelo,
As pálpebras pesadas,
Confusas idéias,
O corpo pego de surpresa
Por uma tempestade em alto-mar,
E os humores são todos maus humores.
Desculpe amor,
Mas não tenho ânimo para teus beijos,
Cala-te, que algo de mim não te reconhece.
Talvez amanhã...
Preciso de insônia, escutar a escuridão,
Sonhar acordada para
Recuperar-me de noites bem dormidas.
As pálpebras pesadas,
Confusas idéias,
O corpo pego de surpresa
Por uma tempestade em alto-mar,
E os humores são todos maus humores.
Desculpe amor,
Mas não tenho ânimo para teus beijos,
Cala-te, que algo de mim não te reconhece.
Talvez amanhã...
Preciso de insônia, escutar a escuridão,
Sonhar acordada para
Recuperar-me de noites bem dormidas.
quinta-feira, 24 de maio de 2007
Uma paixão louca
Andou invadindo meu porto-seguro.
Loucura de tempos atrás
Retomou o leme de minha traineira
Colocando a pequena embarcação de volta ao mar.
Tanto tempo se passou desde a última pescaria,
Tanto tempo ancorado firmemente
Sob sol e chuva
E a louca atira meu pobre barquinho ao mar alto.
Meu pesqueiro precisa de preparo,
Precisa de reparos, precisa ao menos retocar a cor branca
Para poder ser visto da praia,
Para que eu possa acompanhá-lo com os olhos,
Saber aonde vai, quando parar.
Mas para a louca nada adiantou:
Nenhum argumento, súplica, jejum, nada a demoveu.
E lá se foi contra a maré,
Lambida pelas águas, jogada de lá para cá, sem defesa,
A minha pequena embarcação.
Foi sendo empurrada, levada,
E eu não poderia ficar só olhando.
Por causa desta louca de tempos atrás
Aqui estou eu, em pleno azul,
Tirando água com caneco de dentro de um pequeno barco,
E nem lembro mais onde deveria estar.
Andou invadindo meu porto-seguro.
Loucura de tempos atrás
Retomou o leme de minha traineira
Colocando a pequena embarcação de volta ao mar.
Tanto tempo se passou desde a última pescaria,
Tanto tempo ancorado firmemente
Sob sol e chuva
E a louca atira meu pobre barquinho ao mar alto.
Meu pesqueiro precisa de preparo,
Precisa de reparos, precisa ao menos retocar a cor branca
Para poder ser visto da praia,
Para que eu possa acompanhá-lo com os olhos,
Saber aonde vai, quando parar.
Mas para a louca nada adiantou:
Nenhum argumento, súplica, jejum, nada a demoveu.
E lá se foi contra a maré,
Lambida pelas águas, jogada de lá para cá, sem defesa,
A minha pequena embarcação.
Foi sendo empurrada, levada,
E eu não poderia ficar só olhando.
Por causa desta louca de tempos atrás
Aqui estou eu, em pleno azul,
Tirando água com caneco de dentro de um pequeno barco,
E nem lembro mais onde deveria estar.
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Arte menor
Tinha um corpo no meio do caminho,
no meio do caminho tinha um corpo;
tinha um corpo.
Na tarde da burguesia empobrecida
lá estava ele,
crânio alvejado, ar escasseando,
alma já quase ausente,
e os olhos fixos num infinito mistério
retiveram meu visualizar.
Poeta,
no meio do caminho tinha um corpo,
tinha um corpo no meio do caminho,
no meio do caminho
daquela gente que olhava
como se visse pedra
tinha um corpo poeta.
Por um momento, também eu,
pensei estar em pedra a tocar mas,
tinha um corpo no meio do caminho,
no meio do caminho tinha um corpo.
Tinha um corpo
estatelado, estendido
tropeçando em minha vida
com aquele mirar.
Um corpo tatuado em minhas retinas fatigadas,
de tanto fustigar.
Poeta,
nunca me esquecerei:
tinha um corpo no meio do caminho,
no meio do caminho tinha um corpo poeta,
tinha um corpo.
no meio do caminho tinha um corpo;
tinha um corpo.
Na tarde da burguesia empobrecida
lá estava ele,
crânio alvejado, ar escasseando,
alma já quase ausente,
e os olhos fixos num infinito mistério
retiveram meu visualizar.
Poeta,
no meio do caminho tinha um corpo,
tinha um corpo no meio do caminho,
no meio do caminho
daquela gente que olhava
como se visse pedra
tinha um corpo poeta.
Por um momento, também eu,
pensei estar em pedra a tocar mas,
tinha um corpo no meio do caminho,
no meio do caminho tinha um corpo.
Tinha um corpo
estatelado, estendido
tropeçando em minha vida
com aquele mirar.
Um corpo tatuado em minhas retinas fatigadas,
de tanto fustigar.
Poeta,
nunca me esquecerei:
tinha um corpo no meio do caminho,
no meio do caminho tinha um corpo poeta,
tinha um corpo.
terça-feira, 22 de maio de 2007
Rasguei as fotos de cores ontem,
Embrulhei com papel de festa tuas quinquilharias,
Dobrei peça por peça tuas roupas com todo o cuidado,
Para que não amarrotassem demais.
Completo o ritual fui para a rua.
Festejei minha nova respiração,
Enchi meus pulmões de toda sorte de porcarias,
Caminhei por calçadas esburacadas –
Um olho no chão outro no passante
E não vi nada que interessasse.
Tomei café, minutos de recordações tuas,
Sorri alto e sozinha, um sorrir besta
De quem se sente solitário.
Passei por vitrines, uma praça,
Simplesmente passei.
Quando o sol abandonou a paisagem
Tracei o caminho de casa.
Me deparei com teu cheiro e a ausência.
Chorei por hoje e resolvi dormir pelo amanhã.
Embrulhei com papel de festa tuas quinquilharias,
Dobrei peça por peça tuas roupas com todo o cuidado,
Para que não amarrotassem demais.
Completo o ritual fui para a rua.
Festejei minha nova respiração,
Enchi meus pulmões de toda sorte de porcarias,
Caminhei por calçadas esburacadas –
Um olho no chão outro no passante
E não vi nada que interessasse.
Tomei café, minutos de recordações tuas,
Sorri alto e sozinha, um sorrir besta
De quem se sente solitário.
Passei por vitrines, uma praça,
Simplesmente passei.
Quando o sol abandonou a paisagem
Tracei o caminho de casa.
Me deparei com teu cheiro e a ausência.
Chorei por hoje e resolvi dormir pelo amanhã.
Este vampiro na noite - figura branca em vestes negras -
Longilíneo ser de minha crença,
Alimentando-se de lua, bebendo toda a boêmia de meus jovens amigos.
Este disfarçado ente de olhos marrons e mãos firmes
Derretendo sorrisos solares, conquistando, seduzindo,
Pronto a devorar minha alma antes do amanhecer.
Ah vampiro! se adivinhas meu desejo...
Longilíneo ser de minha crença,
Alimentando-se de lua, bebendo toda a boêmia de meus jovens amigos.
Este disfarçado ente de olhos marrons e mãos firmes
Derretendo sorrisos solares, conquistando, seduzindo,
Pronto a devorar minha alma antes do amanhecer.
Ah vampiro! se adivinhas meu desejo...
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Idiossincrasias.
Um anel sobre a mesa –
Anel de ouro;
A vela.
Lágrimas na frente do espelho,
Os primeiros cabelos brancos.
O silêncio...silenciar.
Nenhuma resposta para a pergunta inevitável
Você perdeu alguma parte dessa história,
Por onde você andava?
Nada de questões por favor,
Inútil tentativa de solucionar mais um porquê.
Caminha pelo corredor,
A porta para a rua,
Um sol já fraco pelo entardecer,
Observa...
Um anel sobre a mesa –
Anel de ouro;
A vela.
Lágrimas na frente do espelho,
Os primeiros cabelos brancos.
O silêncio...silenciar.
Nenhuma resposta para a pergunta inevitável
Você perdeu alguma parte dessa história,
Por onde você andava?
Nada de questões por favor,
Inútil tentativa de solucionar mais um porquê.
Caminha pelo corredor,
A porta para a rua,
Um sol já fraco pelo entardecer,
Observa...

Ana foi-se triste caminhando pelas calçadas. Deixou-se fria. A roupa tornou-se pele. A boca trêmula não mais significava. Os olhos a embaçar o que há. As mãos pendiam sem razão. Os pés iam. Foi-se triste. Foi-se Ana. Uma cortina fina filtrando a paisagem. E Ana foi-se triste, caminhando sob gotículas de fino calibre. Foi-se meio morta, meio viva. Foi-se Ana. E o cão fitando toda a cena suspirou dolente: foi-se triste. Caminhando pelas calçadas deixou-se fria e algo dela aqui está.
domingo, 20 de maio de 2007
Virgínia
A dor não permite perceber as cores –
O azul já roxo das flores,
Um amarelado do chão com areia.
Em outros olhos pode notar o quanto os seus estão
Vermelhos, inchados.
E se pudesse sentir como eles, sorrir.
Como serão aquelas vidas anônimas sempre em festa,
Sempre celebrando novos ares.
O seu corpo parecendo acompanhá-la há gerações,
Pesa com uma idade não correspondida.
As lembranças somem em qualquer quarto de algum
Lugar indefinido.
Os rostos são mosaicos, um pedaço de cada
E a luz passando pelos cortes.
Tudo foi um grande desperdício:
De vida, amores, solidões,
Gozos estúpidos, falsos gemidos, vazio...
Imensos vazios.
Agora o rio lembra a cama derradeira,
Com seus lençóis quentes, travesseiros,
O descanso para alma desistente.
Ainda se pergunta porque não percebeu
A festa que todos freqüentavam.
Os pés, sempre bonitos,
(sim, ela tem pés muito bem feitos, foi o que lhe disseram)
vacilam na beira, mas não há duvidas,
desta vez ela é toda certeza, e voa,
atira-se naquela cama como se fosse a do quarto dos pais,
onde, finalmente, consegue dormir sem medo, protegida do mundo.
O azul já roxo das flores,
Um amarelado do chão com areia.
Em outros olhos pode notar o quanto os seus estão
Vermelhos, inchados.
E se pudesse sentir como eles, sorrir.
Como serão aquelas vidas anônimas sempre em festa,
Sempre celebrando novos ares.
O seu corpo parecendo acompanhá-la há gerações,
Pesa com uma idade não correspondida.
As lembranças somem em qualquer quarto de algum
Lugar indefinido.
Os rostos são mosaicos, um pedaço de cada
E a luz passando pelos cortes.
Tudo foi um grande desperdício:
De vida, amores, solidões,
Gozos estúpidos, falsos gemidos, vazio...
Imensos vazios.
Agora o rio lembra a cama derradeira,
Com seus lençóis quentes, travesseiros,
O descanso para alma desistente.
Ainda se pergunta porque não percebeu
A festa que todos freqüentavam.
Os pés, sempre bonitos,
(sim, ela tem pés muito bem feitos, foi o que lhe disseram)
vacilam na beira, mas não há duvidas,
desta vez ela é toda certeza, e voa,
atira-se naquela cama como se fosse a do quarto dos pais,
onde, finalmente, consegue dormir sem medo, protegida do mundo.
Ana foi-se triste caminhando pelas calçadas. Deixou-se fria. A roupa tornou-se pele. A boca trêmula não mais significava. Os olhos a embaçar o que há. As mãos pendiam sem razão. Os pés iam. Foi-se triste. Foi-se Ana. Uma cortina fina filtrando a paisagem. E Ana foi-se triste, caminhando sob gotículas de fino calibre. Foi-se meio morta, meio viva. Foi-se Ana. E o cão fitando toda a cena suspirou dolente: foi-se triste. Caminhando pelas calçadas deixou-se fria e algo dela aqui está.
sábado, 19 de maio de 2007
sexta-feira, 18 de maio de 2007
quinta-feira, 17 de maio de 2007
quarta-feira, 16 de maio de 2007
Braços de Capitu
- Ana?
- Sim João?
- Me passa o prato.
- Qual? O com bordas douradas ou o florido?
- ...
- Sim João?
- Me passa o prato.
- Qual? O com bordas douradas ou o florido?
- ...
Passividade
Avoou de mim todo o sim.
Avoou para lá.
Disparou carreira pela estradinha vermelha.
Com asas-mundo
Foi-se na direção de monções viageiras.
Criou-se grande,
E na distância mandou bilhete rascunhado
Com a vazia saudade.
Foi-se de vez...
Avoou para lá.
Disparou carreira pela estradinha vermelha.
Com asas-mundo
Foi-se na direção de monções viageiras.
Criou-se grande,
E na distância mandou bilhete rascunhado
Com a vazia saudade.
Foi-se de vez...
terça-feira, 15 de maio de 2007

Dançam, rodopiam, levitam
Teus olhos –
Pequenas bailarinas de pés feiosos –
Pelo pôr de sol avermelhado.
A tarde teria que ser assim,
Calma, com a brisa lúdica invadindo a alma.
Gaivotas sobrevoam um mar negro
Carregando, vez por outra,
Um peixe brigador.
As palavras,
Você as disse de forma a combinar
Com o cenário.
Foi um adeus como todos os outros,
Mas carregava tua poesia.
Claridade cotidiana *
Clara andava indignada com as injustiças do mundo, com seus objetivos particulares e até com a natureza tão descontrolada nestes dias. Para falar a verdade, ela estava confusa, chegara a uma idade de decisões, mas o horizonte não se mostrava muito propício.
Clara enclausurada habitava um cômodo escuro em uma periferia qualquer do planeta. As periferias sempre eram descritas nos noticiários como os locais mais miseráveis, desumanos; para ela periferia lembrava os anéis de Saturno, não sabia bem porque. Sua imaginação fazia com que ela olhasse o céu e se transportasse para uma estação espacial, sonhava com isso desde criança. Seres misturados vivendo sem peso na imensidão negra. Utopia de salvação desta realidade terráquea.
O relógio tocava pontualmente às cinco e trinta da manhã e ela se lembrava que não era tão terrível acordar a esta hora, porque no Japão o dia já estava terminando. Então nada duraria para sempre. Que consolo; lembrou-se de um história que lera ainda pequena. A personagem estava sempre tentando ver o lado bom. Afastou as idéias, ela só queria sonhar, mas o relógio não deixava.
Madrugadas podem trazer sensações gélidas a um coração aquecido de esperanças. Não havia muitos rostos conhecidos ns ruas. Passava pelo portão de Claudia. Essa teve mais sorte. Acorda tarde, vai à escola, tem pai e mãe. O futuro de Claudia é tão claro. O de Clara é pura madrugada sem sol.
Ônibus lotado, pessoas espremidas. Homens com hálito de bebida forte se esfregando. Ah se alguém levantasse! Se ao menos pudesse se sentar, olhar sem ver a paisagem diária. Sonhar...Uma freada brusca e quase que o homem desatento na rua é atropelado. Isso é que dá ficar sonhando acordado, pensa Clara. Não se deve sonhar de dia, espera pela noite seu estúpido!
Bom-dia a todos, mais cumprimentos, pega seu cartão. Clara trabalhadora vai marcar o ponto, junto com Ana, Bia, Joaquim, Carlos e um monte de outros. Leva o dia, Clara querida.
Cartas, a fila do banco, alguém mal humorado. Ela não tem vontade de ficar de mau humor. Para que afinal? Tem que tomar decisões. É a idade. O pai já se foi, a mãe resiste, os irmãos seguem, os amigos buscaram outras estradas. Clara continua. Clara monótona.
O estômago reclama, é hora do almoço. Leva a marmita para o refeitório, acompanha a fila de famintos. O cheiro de feijão, arroz e alguma carne tomam conta. Matar a fome traz alegria, aproxima Bia e Carlos, tão diferentes, mas irmãos de sorte. Uma hora de pausa, conversas colocadas em dia. Uma hora nada mais, uma hora.
Mais cartas, mais papéis, um devaneio. O patrão chama a sua atenção. “O que há com você ultimamente. Não sabe que já não tem mais idade para viver no mundo da lua!” Mundo da lua não patrão, queria viver na estação espacial, fazer parte das estrelas, mas agora tenho que escrever cartas, preencher formulários, trabalhar para fazer sua empresa crescer e eu poder comprar a comida no final do mês. Não dá para sonhar. Clara humilhada volta para a sua mesa. Três horas e trinta e cinco minutos. Mais algumas horas. No Japão já é amanhã.
Cinco e cinqüenta, soa o alarme do relógio de ponto. Acorda com o som do alarme, come com o som do alarme, vai para casa com o som do alarme. Escrava de um alarme de relógio. Clara alarmada entre no ônibus de volta para a casa.
Um homem dorme com a cabeça encostada na janela, a mulher mais a frente ronca de boca aberta. Ela se espreme em pé, um homem suado se esfrega atrás, respira quente em seu pescoço. Clara engole as lágrimas. A lua já está no céu, quase não tem estrelas. Quando será que vão lançar a estação espacial? O ponto de Clara. Salta. Passa pelas ruas, as casas já acesas. Não lembra qual a cor delas iluminadas pelo sol. Claudia está na varanda rindo com outras meninas, todas têm livros. Devem estar estudando. Estão rindo. As decisões que não tomamos. O mundo que deixamos outros decidirem por nós.
Um beijo na mãe. “Como foi seu dia?” ”Bom”. Cuidar da sua roupa, a comida do dia seguinte. Dinheiro para o pão, a água. A novela na TV. A mãe olha os artistas, tudo tão bonito! Clara realista vai dormir. Acerta o alarme do relógio. Fecha os olhos. No Japão todos já estão trabalhando. Ainda bem que Clara mora do outro lado do globo, assim pode dormir, pode sonhar. Tentar se decidir antes que o alarme soe e Clara tenha que acordar.
Boa noite Clara querida. Sonhe com os anjos. Sonhe com a estação espacial. Sonhe Clara. Sonhe para poder acordar para a realidade.
Clara enclausurada habitava um cômodo escuro em uma periferia qualquer do planeta. As periferias sempre eram descritas nos noticiários como os locais mais miseráveis, desumanos; para ela periferia lembrava os anéis de Saturno, não sabia bem porque. Sua imaginação fazia com que ela olhasse o céu e se transportasse para uma estação espacial, sonhava com isso desde criança. Seres misturados vivendo sem peso na imensidão negra. Utopia de salvação desta realidade terráquea.
O relógio tocava pontualmente às cinco e trinta da manhã e ela se lembrava que não era tão terrível acordar a esta hora, porque no Japão o dia já estava terminando. Então nada duraria para sempre. Que consolo; lembrou-se de um história que lera ainda pequena. A personagem estava sempre tentando ver o lado bom. Afastou as idéias, ela só queria sonhar, mas o relógio não deixava.
Madrugadas podem trazer sensações gélidas a um coração aquecido de esperanças. Não havia muitos rostos conhecidos ns ruas. Passava pelo portão de Claudia. Essa teve mais sorte. Acorda tarde, vai à escola, tem pai e mãe. O futuro de Claudia é tão claro. O de Clara é pura madrugada sem sol.
Ônibus lotado, pessoas espremidas. Homens com hálito de bebida forte se esfregando. Ah se alguém levantasse! Se ao menos pudesse se sentar, olhar sem ver a paisagem diária. Sonhar...Uma freada brusca e quase que o homem desatento na rua é atropelado. Isso é que dá ficar sonhando acordado, pensa Clara. Não se deve sonhar de dia, espera pela noite seu estúpido!
Bom-dia a todos, mais cumprimentos, pega seu cartão. Clara trabalhadora vai marcar o ponto, junto com Ana, Bia, Joaquim, Carlos e um monte de outros. Leva o dia, Clara querida.
Cartas, a fila do banco, alguém mal humorado. Ela não tem vontade de ficar de mau humor. Para que afinal? Tem que tomar decisões. É a idade. O pai já se foi, a mãe resiste, os irmãos seguem, os amigos buscaram outras estradas. Clara continua. Clara monótona.
O estômago reclama, é hora do almoço. Leva a marmita para o refeitório, acompanha a fila de famintos. O cheiro de feijão, arroz e alguma carne tomam conta. Matar a fome traz alegria, aproxima Bia e Carlos, tão diferentes, mas irmãos de sorte. Uma hora de pausa, conversas colocadas em dia. Uma hora nada mais, uma hora.
Mais cartas, mais papéis, um devaneio. O patrão chama a sua atenção. “O que há com você ultimamente. Não sabe que já não tem mais idade para viver no mundo da lua!” Mundo da lua não patrão, queria viver na estação espacial, fazer parte das estrelas, mas agora tenho que escrever cartas, preencher formulários, trabalhar para fazer sua empresa crescer e eu poder comprar a comida no final do mês. Não dá para sonhar. Clara humilhada volta para a sua mesa. Três horas e trinta e cinco minutos. Mais algumas horas. No Japão já é amanhã.
Cinco e cinqüenta, soa o alarme do relógio de ponto. Acorda com o som do alarme, come com o som do alarme, vai para casa com o som do alarme. Escrava de um alarme de relógio. Clara alarmada entre no ônibus de volta para a casa.
Um homem dorme com a cabeça encostada na janela, a mulher mais a frente ronca de boca aberta. Ela se espreme em pé, um homem suado se esfrega atrás, respira quente em seu pescoço. Clara engole as lágrimas. A lua já está no céu, quase não tem estrelas. Quando será que vão lançar a estação espacial? O ponto de Clara. Salta. Passa pelas ruas, as casas já acesas. Não lembra qual a cor delas iluminadas pelo sol. Claudia está na varanda rindo com outras meninas, todas têm livros. Devem estar estudando. Estão rindo. As decisões que não tomamos. O mundo que deixamos outros decidirem por nós.
Um beijo na mãe. “Como foi seu dia?” ”Bom”. Cuidar da sua roupa, a comida do dia seguinte. Dinheiro para o pão, a água. A novela na TV. A mãe olha os artistas, tudo tão bonito! Clara realista vai dormir. Acerta o alarme do relógio. Fecha os olhos. No Japão todos já estão trabalhando. Ainda bem que Clara mora do outro lado do globo, assim pode dormir, pode sonhar. Tentar se decidir antes que o alarme soe e Clara tenha que acordar.
Boa noite Clara querida. Sonhe com os anjos. Sonhe com a estação espacial. Sonhe Clara. Sonhe para poder acordar para a realidade.
* publicado na revista eletrônica de contos Bestiário - www.bestiario.com.br
segunda-feira, 14 de maio de 2007
Estás tecendo a teia
E eu, sentindo-me a mosca
Alvo de tua próxima refeição,
Ouvi os instintos
Alçando vôo para um ponto seguro.
Colocando-me satisfatoriamente
Onde possa te observar.
Reparo como pegas cada fio,
A armação de toda a trama,
A beleza de tua arapuca.
Sinto-me visualmente atraída.
Teu trabalho é bem realizado,
Meus pares de sentidos se perdem.
Sobrevôo teus olhos,
E talvez a lei da natureza
Se faça valer...
E eu, sentindo-me a mosca
Alvo de tua próxima refeição,
Ouvi os instintos
Alçando vôo para um ponto seguro.
Colocando-me satisfatoriamente
Onde possa te observar.
Reparo como pegas cada fio,
A armação de toda a trama,
A beleza de tua arapuca.
Sinto-me visualmente atraída.
Teu trabalho é bem realizado,
Meus pares de sentidos se perdem.
Sobrevôo teus olhos,
E talvez a lei da natureza
Se faça valer...
Enquanto meus olhos buscam
Meu coração lamenta
As idéias não formarem ideais,
Bases sólidas sobre chão-pântano.
As sombras de felicidade
Na casa pintada de branco,
Nos sorrisos dos filhos
Assombram minha mente.
Tua figura me lembra
Que sou o afogado
Tentando tirar d'água o oxigênio.
Dolorida impossibilidade
Arrebenta em meu corpo.
Meu coração lamenta
As idéias não formarem ideais,
Bases sólidas sobre chão-pântano.
As sombras de felicidade
Na casa pintada de branco,
Nos sorrisos dos filhos
Assombram minha mente.
Tua figura me lembra
Que sou o afogado
Tentando tirar d'água o oxigênio.
Dolorida impossibilidade
Arrebenta em meu corpo.

Acompanhei por boa parte do dia
Um ponteiro dando voltas
Naquele pequeno relógio,
Presença constante de tua ausência.
Contei cada minuto passado
Em câmara lenta no calor da cama vazia.
Sequei cada lágrima estúpida
No completar das horas pares;
Nas ímpares te amaldiçoei.
Percebi com a chegada da noite
Que merecia mais.
Joguei fora as horas,
Esqueci-me do teu gosto
E fui para a rua,
Vestida com o básico
Negro no coração.
Estou pronta para dançar!
Um ponteiro dando voltas
Naquele pequeno relógio,
Presença constante de tua ausência.
Contei cada minuto passado
Em câmara lenta no calor da cama vazia.
Sequei cada lágrima estúpida
No completar das horas pares;
Nas ímpares te amaldiçoei.
Percebi com a chegada da noite
Que merecia mais.
Joguei fora as horas,
Esqueci-me do teu gosto
E fui para a rua,
Vestida com o básico
Negro no coração.
Estou pronta para dançar!
Meu amigo querido, ontem deparei-me com teus olhos tão tristonhos e não pude deixar de observar tua fisionomia. O nariz pequeno, a boca desenhada, esses castanhos amendoados povoados da umidade que me doloriu. Sim amigo, a melancolia de teu sorriso entreaberto e branco, os gestos tímidos, a permanência como quem não está à vontade consigo, a fala entrecortada e suave me acompanharam pelas horas, invadindo os sonhos. Fiquei eu angustiada imaginando a vida aí, do teu lugar. E teu silêncio evocou minha cumplicidade engasgada e amofinada. Por isso, amigo meu, resolvi expor-te a tristeza que sentes, aquela deixada por teus olhos em minha mirada.
domingo, 13 de maio de 2007
No meio da tarde tristonha
Um Don Juan atravessou minha paisagem
Com uma rosa vermelha na mão.
Carregava um olhar negro e sonhador.
Estampado no rosto
Um sorriso de namorado.
Caminhava como que ausente dos que passavam,
Talvez ansioso por chegar ao seu destino.
Invejei a mulher capaz de despertar
Naquele ser tão belo
Um desejo visível de felicidade.
Uma rosa.
Levada embrulhada em papel de seda,
Cuidadosamente vermelha,
Indo à frente dos passos,
Observada nos detalhes.
Pernas, pétalas, corpo, cheiro
Dessa que amas.
Permaneci acompanhando seu passar
Por um tempo ainda, até que
Desapareceu de minhas vistas,
Misturou-se à multidão
Tornando-se igual,
Mais um.
Fechei os olhos
E me deixei levar cansada
Pelos pensamentos...
Jamais uma rosa vermelha, jamais....
Um Don Juan atravessou minha paisagem
Com uma rosa vermelha na mão.
Carregava um olhar negro e sonhador.
Estampado no rosto
Um sorriso de namorado.
Caminhava como que ausente dos que passavam,
Talvez ansioso por chegar ao seu destino.
Invejei a mulher capaz de despertar
Naquele ser tão belo
Um desejo visível de felicidade.
Uma rosa.
Levada embrulhada em papel de seda,
Cuidadosamente vermelha,
Indo à frente dos passos,
Observada nos detalhes.
Pernas, pétalas, corpo, cheiro
Dessa que amas.
Permaneci acompanhando seu passar
Por um tempo ainda, até que
Desapareceu de minhas vistas,
Misturou-se à multidão
Tornando-se igual,
Mais um.
Fechei os olhos
E me deixei levar cansada
Pelos pensamentos...
Jamais uma rosa vermelha, jamais....
Cintilam em minha pele
Estrelas do sangue que abjura sua crença.
O céu cinzento não é mais a casa do Deus.
Esforço-me para trazer à vida
O amado.
Maldito aquele causador de minha desgraça!
Meu ser nada pode fazer
Para dar-te “o sopro”...
Deixo-te aí,
Desfigurado ente.
Banho-me em desespero rubro.
Destronada
Minha fé aguarda,
Pede socorro...
E teus olhos fitam impassíveis,
Sem nada ver,
Sem perceber
Que o calor abandonou teu corpo.
Estrelas do sangue que abjura sua crença.
O céu cinzento não é mais a casa do Deus.
Esforço-me para trazer à vida
O amado.
Maldito aquele causador de minha desgraça!
Meu ser nada pode fazer
Para dar-te “o sopro”...
Deixo-te aí,
Desfigurado ente.
Banho-me em desespero rubro.
Destronada
Minha fé aguarda,
Pede socorro...
E teus olhos fitam impassíveis,
Sem nada ver,
Sem perceber
Que o calor abandonou teu corpo.
Infinitude do amor
As mãos dele, firmes, seguram os ombros dela. Sacodem uma vez seu corpo. Ameaçam. Dirigem-se ao rosto virado à última hora com o reflexo do medo. Ela chora. O corpo trêmulo se esconde encostado à parede. Tenta argumentar. As mãos certeiras dele voam em direção aos olhos. Um soco. Arde. Cambaleante ela não mais enxerga o quarto pequeno de paredes caiadas. Tateando o desespero procura apoio em algum móvel. Engole as lágrimas que agora podem doer mais nos olhos arrebentados. Ouve abusos, absurdos. Leva mais um tapa no rosto, sente o sangue na boca. Ele se amaldiçoa dizendo que não deveria viver com mulher bonita. Ela rasteja. Posição de bicho querendo sobreviver. Ele a puxa pelos cabelos, domina e usa de sua presa. Ela, ausente, nem sente. Aguarda sua hora. Instintos. Ele, cansado, dorme vitorioso. Sono de dominador. O senhor da situação. Ela, que é resistência, procura a lâmina pela casa no escuro. Aproxima-se com decisão de quem se deixou transformar em vítima. Acaba de uma vez com o homem que era seu amor. Sem uma palavra, nenhuma ofensa. Quase sem sofrimento, poderia ser dito. Ela não tem vontade de chorar por ele, mas o sorriso também não vem.
Procura a porta. Abre, vira o rosto para dentro sem conseguir enxergar a cena melhor. Fecha a porta. Deixa-se levar pela rua. Talvez seja um fim, talvez um início, talvez, quem sabe, um talvez...
Procura a porta. Abre, vira o rosto para dentro sem conseguir enxergar a cena melhor. Fecha a porta. Deixa-se levar pela rua. Talvez seja um fim, talvez um início, talvez, quem sabe, um talvez...
sábado, 12 de maio de 2007
À Quintana
Minha quinta
Não era um quintalão,
Tão pouco um quintalejo.
Meu simples quintal
Juntava-se em uma quintalada vizinha.
E eu, filha de quinteiro,
Me punha desde muito guria
A quintanear.
Não era um quintalão,
Tão pouco um quintalejo.
Meu simples quintal
Juntava-se em uma quintalada vizinha.
E eu, filha de quinteiro,
Me punha desde muito guria
A quintanear.
Deito,
e em ti deleito minhas sensações.
Peitos de minha raça
raspam pêlos de teu gênero.
Suores de ânsia-
anticlímax-
são lutas pela perpetuação humana.
Transcendemos em gozo,
em jorro da nossa condição.
Bicho-homem?
Razão-coração?
Representação-sensação?
Prazer, só,
no que a mim assim há.
Antropocêntrico,
antro,
centro,
meu umbigo a girar em torno do sol.
Problemas?, não,
questões...
e em ti deleito minhas sensações.
Peitos de minha raça
raspam pêlos de teu gênero.
Suores de ânsia-
anticlímax-
são lutas pela perpetuação humana.
Transcendemos em gozo,
em jorro da nossa condição.
Bicho-homem?
Razão-coração?
Representação-sensação?
Prazer, só,
no que a mim assim há.
Antropocêntrico,
antro,
centro,
meu umbigo a girar em torno do sol.
Problemas?, não,
questões...
Mímesis outrem
Quem sou eu?
Um mimético mudo de outrem?
Um personagem sem nome nem caráter?
Um dramático de mim passando-se por criatura?
Um filho de alguém que carrega o lar?
Um parido sem mãe a berrar para o mundo?
Quem sou eu?
Imitação barata de pessoa?
Farsa de humanidade?
Imagem de minha vergonha?
Orgulho de minha voz?
Quem sou eu?
Quem me responde?
Quem me diz?
Quem soluciona meus porquês?
Quem?
Algum deus?
Algum amigo?
Algum amor?
A razão?
Afinal quem sou?
A quem imito?
A quem limito?
A quem interesso eu?
Afinal a quem?
Mímesis muda
Imagem embaçada
Outrem insano
Eu
Quem sou eu?
Um mimético mudo de outrem?
Um personagem sem nome nem caráter?
Um dramático de mim passando-se por criatura?
Um filho de alguém que carrega o lar?
Um parido sem mãe a berrar para o mundo?
Quem sou eu?
Imitação barata de pessoa?
Farsa de humanidade?
Imagem de minha vergonha?
Orgulho de minha voz?
Quem sou eu?
Quem me responde?
Quem me diz?
Quem soluciona meus porquês?
Quem?
Algum deus?
Algum amigo?
Algum amor?
A razão?
Afinal quem sou?
A quem imito?
A quem limito?
A quem interesso eu?
Afinal a quem?
Mímesis muda
Imagem embaçada
Outrem insano
Eu
Quem sou eu?
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