domingo, 13 de maio de 2007

Infinitude do amor

As mãos dele, firmes, seguram os ombros dela. Sacodem uma vez seu corpo. Ameaçam. Dirigem-se ao rosto virado à última hora com o reflexo do medo. Ela chora. O corpo trêmulo se esconde encostado à parede. Tenta argumentar. As mãos certeiras dele voam em direção aos olhos. Um soco. Arde. Cambaleante ela não mais enxerga o quarto pequeno de paredes caiadas. Tateando o desespero procura apoio em algum móvel. Engole as lágrimas que agora podem doer mais nos olhos arrebentados. Ouve abusos, absurdos. Leva mais um tapa no rosto, sente o sangue na boca. Ele se amaldiçoa dizendo que não deveria viver com mulher bonita. Ela rasteja. Posição de bicho querendo sobreviver. Ele a puxa pelos cabelos, domina e usa de sua presa. Ela, ausente, nem sente. Aguarda sua hora. Instintos. Ele, cansado, dorme vitorioso. Sono de dominador. O senhor da situação. Ela, que é resistência, procura a lâmina pela casa no escuro. Aproxima-se com decisão de quem se deixou transformar em vítima. Acaba de uma vez com o homem que era seu amor. Sem uma palavra, nenhuma ofensa. Quase sem sofrimento, poderia ser dito. Ela não tem vontade de chorar por ele, mas o sorriso também não vem.
Procura a porta. Abre, vira o rosto para dentro sem conseguir enxergar a cena melhor. Fecha a porta. Deixa-se levar pela rua. Talvez seja um fim, talvez um início, talvez, quem sabe, um talvez...

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